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Piano de Família
Inegável que o filme tem momentos de brilhantismo cinematográfico, especialmente nos flashbacks, mas de maneira geral parece engessado num formato teatral com convenções que no cinema soam apenas como artificialidade. Quando se vale de convenções de terror também encontra força, o sobrenatural possível como alegoria de opressão funciona num universo de convenções teatrais. Piano de Família perde força toda vez que voltamos pras cenas do andar de baixo da casa de Bernice.
As atuações soam desencontradas, com John David Washington atuando como se fosse teatro, Danielle Deadwyler se dividindo entre o teatral e o cinematográfico - ainda que em grande forma. Pra mim o destaque é Ray Fisher, que navega com grande naturalidade pela artificialidade. Samuel L Jackson é sempre incrível. E se Isabela Rosselini pode ser indicada ao Oscar por Conclave eu gostaria muito que ele pudesse ser indicado por essa pequena participação aqui. A sequência em que ele conta a história do piano é minha favorita do filme inteiro.
O texto teatral de August Wilson é obviamente genial. Contudo, a adaptação para roteiro poderia ser mais radical, abrir mão de elementos teatrais em prol de ganho cinemático. Imagino que abrir mão de monólogos, de narrações e de longuíssimos diálogos seja difícil quando eles são excelentes, mas elevariam o filme que as vezes se perde até no gênero. Drama, terror, romance e alegoria social se misturam sem coesão em momentos demais.
Quando encontra o tom, porém, quando consegue equilibrar gênero e dar um descanso para o falatório, Piano de Família mostra o talento do jovem diretor Malcolm Washington. Quase lá, o filme da muita vontade de ver o que ele fará a seguir. O projeto ambicioso porém hesitante mostra um caminho interessante de se acompanhar.
2 0 2 days ago
quando terminou a Clarissa me olhou e disse: eu gostei muito, achei arrojado. lembro que uma vez me elogiaram uma peça com essa mesma palavra e pensei que a palavra servia melhor a automóveis do que a obras de arte. isso na época em eu tinha certeza que fazia obras de arte. e eu olho pra esse filme de Jacques Audiard e me irrita um pouco a sensação de que ele, o autor, tinha certeza de que estava realizando uma obra de arte. mas sei lá, pode ser só uma impressão equivocada minha. um pouco de ranço com um homem europeu falando de latinos, um pouco de ranço com os mesmos velhos tropos narrativos cansados sobre latinos bandidos, sobre pessoas trans malvadas e sofridas. parece preguiçoso um filme que tenta reinventar narrativas, reinventar estética, não tentar reinventar éticas. o filme tem erros de dispersão narrativa? vários. e isso não seria um problema, especialmente diante do risco que o filme corre ao mesclar tantos gêneros. comédia, drama, musical, thriller, crítica social, tudo batido num liquidificador numa roupagem, sim, arrojada, mas que no fundo conta a mesma história de sempre com seus velhos desfechos. parece pertencer ao século passado. não é ruim, mas não é muito mais do um automóvel mesmo. as atrizes são fantásticas, seria bonito um prêmio histórico para Karla Sofia Gascón.
3 0 7 days ago
Fernanda Torres indicada ao Globo de Ouro. ontem ouvindo o podcast do Matt Neglia, The Next Best Picture, foi legal saber que a torcida grande dele era pra essa indicação dela e de Ainda Estou Aqui. Boa parte da crítica dos EUA está apaixonada por Torres. o que dificulta para ela nessa corrida de premiações é a barreira da língua - que inacreditavelmente ainda faz diferença. já para o filme tem um duelo de narrativas melhores - com The Seed of the Sacred Fig e All we Imagine as Light - e um favoritismo que parece se consolidar mais e mais com Emília Pérez. Se indicado, o filme brasileiro precisa fazer chover pra trazer a estatueta.
26 0 10 days ago
demorei um pouco pra ver esse e estou contemplando tirar algo da minha lista de filmes do ano pra colocar Stop Motion no lugar. a construção da atmosfera perturbadora que se intensifica mais e mais conforme a narrativa avança e a protagonista se aparta da realidade é uma das melhores desse ano. a artificialidade dos signos que entram em conjunção com a obra dentro da obra é fascinante. e por fim, a sensação inquietante de que o filme está desvendando algum tipo de trauma é inefável e inegável, mesmo o roteiro recusando ativamente respostas. não chega a ser traumacore, mas a sensação de causalidade é perturbadora. um 9/10 de final de ano.
5 0 11 days ago
poucas coisas na vida me foram tão impactantes quanto o documentário de Mati Diop sobre a devolução de obras de arte roubadas do Benim por uma França imperialista. obras de arte que são também registros de uma história e de uma identidade. e no fim colonialismo não é um muito sobre roubo de identidade, assassinato de identidade, obliteração de identidade? Diop parte da memória da obra para criar um discurso poético e potente que se contrapõe a momentos de discussão política entre jovens sobre a devolução insuficiente de míseras 26 obras de tantas e o trabalho de pesquisadores que fizeram com que as obras retornassem. bonito como a escultura deixa de ser um objeto inanimado para se tornar herança cultural, ancestralidade e, principalmente, um reencontro com identidade. escrevo mal e escrevo pouco diante da enormidade do filme. vejam, só vejam.
9 2 a month ago
amizades, que filme bom esse Mads. duas coisas que me pegam são a escolha estética pelo plano sequência que funciona muito bem e a escolha narrativa por alternar o protagonista da história ao longo de uma noite absurda. drogas novas, experimentos com cobaias humanas e uma juventude hedonista são os ingredientes certos para um filme que não deixa a peteca cair em uma hora e meia de tensão que vai se elevando mais é mais. gostei muito, entra no meu top 10 do ano com louvor.
12 0 a month ago
eu não sei se é o melhor documentário do ano - provavelmente não. mas pensando em Oscar e no que tá acontecendo nos EUA agora eu acho que é um documentário muito importante, com poder de alcance tremendo. e um selinho bobo de academia pode ajudar nesse alcance. não é que eu me importe terrivelmente com a política de um país que está cada dia mais falido, mas coletivamente eu me importo com as minorias que serão afetadas depois da eleição do Trump, especialmente da minha comunidade LGBTQIA+, especialmente as pessoas trans, que estão sempre ameaçadas o tempo todo no mundo todo, mas depois da eleição correm ainda mais risco. um filme como Will and Harper ajuda a transformar o desconhecido em humano, com um ator que agrada muito a uma parcela mais conservadora. e a jornada que fazem pelo interior do país mostra que é possível ter esperança, mas que não é fácil acabar com o preconceito. eu sei que Dahomey é melhor, mas também sei que fala com um parece bem menor de pessoas, especialmente dentro daquele país que odeia legenda e qualquer coisa que não seja o próprio umbigo. resta torcer para Will and Harper, que apela diversas vezes para o sentimentalismo, mas quem se importa? funciona. e se fizer uma pessoa mudar de ideia sobre os direitos trans já é algo.
5 0 a month ago
coming of age é uma gênero que eu amo muito, um tipo de filme que eu gostaria de escrever um dia, seja em forma de filme, série ou literatura. dito isso, My Old Ass - me recuso a usar o péssimo título em português - com certeza se torna uma referência. normalmente uma história de uma menina que se identifica como lésbica e de repente se apaixona com o garoto me irritaria, mas a fluidez de afetos e a identidade são tratadas com tanta honestidade e sutileza que é impossível não pensar apenas que o mundo é repleto de possibilidades para decisões engessadas. uma pena que o ator por quem a protagonista se apaixona seja uma figura com várias acusações de estupro nas costas, é muito difícil deixar isso de lado. Ainda que a relação mais interessante seja de Elliott de 18 anos com seu eu de 39. ajuda muito que Maisy Stella seja uma revelação (indicada ao Gotham Awards, aliás) e Aubrey Plaza é Aubrey Plaza. um filme que relaxa aquele tipo de sonho sobre o que eu diria a mim mesma com 18 anos pra não me desviar do caminho de tornar eu. Elliott adulta tenta evitar a dor ao aconselhar a Elliott jovem a evitar alguém chamado Chad. mas não dá muito certo, já que ele é o menino por quem ela acaba de apaixonando. o filme é fofo e bem escrito com uma fotografia linda. 3,5 de 5 pra mim.
0 0 a month ago
chegou na Netflix e eu sinto muito por ter gasto meu tempo com isso. chato, sem carisma, músicas sem graça. eu poderia passar horas listando problemas. mas só vou garantir: era melhor ter ido ver o filme do Pelé.
5 2 a month ago
acho que o principal problema desse filme é que os riscos ficam claros para a protagonista, mas soam bobos pro público. o desfecho sentimental é péssimo e a ideia de espiral de loucura provocado por uma profissão/arte extremamente competitiva já foi melhor explorada nos últimos dez anos. e sobre gastronomia, O Menu é muito mais efetivo, como terror, como crítica, como diversão. o que deveria ser alta gastronomia não passa de um hambúrguer mediano, provavelmente qualquer um viveria melhor sem ele.
4 0 a month ago
Kiyoshi Kurosawa faz uns filmes tão contemplativos quanto inquietantes, sempre com um senso de desgraça iminente. uns filmes tão assustadora quanto esquisitos, bonitos e aflitivos. Chime não é diferente. Conciso e preciso. Aterrador.
2 0 2 months ago
um clássico é um clássico por diversos motivos. e Ghostwatch é um clássico por lançar um filme de terror na programação normal da televisão como se fosse um novo programa estrelado por apresentadores reais da BBC. e deixar o público de cabelo em pé acreditando que aquilo era mesmo real. como se um belo dia o Globo Repórter fosse fazer a matéria numa suposta casa mal assombrada e toda a equipe se visse em perigo, mas ao vivo. em um tempo em que era possível recriar guerra dos mundos do rádio para a televisão, com um apelo real e borrando a linha da ficção. esse tempo morreu junto com a internet, mas antes existiu Ghostwatch.