“ trouxe notícias do teu oceano “  2024

A Instalação é parte da exposição “ Anas, Simoas e Dragões - lutas negras pela liberdade” no @macdragao e tem curadoria de @aline.furtados @cicerapreta, expografia de @hectorisaias___ 

A exposição traz como proposta um enfrentamento da história, dos processos abolicionistas no Ceará, que apagam e diminuem  o protagonismo de pessoas negras. 

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Em diálogo com o acervo do Museu do Ceará  o trabalho possui duas peças desse acervo. A primeira é um pássaro tesourão, taxidermizado. Coloco o pássaro em um abiente/gaiola, e instalo uma câmera que fica próximo ao bicho.  Uma televisão na lateral da sala transmite a imagem da câmera, dando a impressão de que é a visão do animal de dentro da gaiola. A frente do pássaro preso, outra peça do acervo, uma cápsula de vidro, com a água da primeira sangria do açude Cedro, que fica em Quixadá, onde morei por 5 anos. O açude cedro é uma engenharia colonial que se arrastou pelos anos de 1900, mas que foi sonhada pelo imperador. 

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Há na construção do açude todo um debate sobre o uso de mão de obra escravizada, e em alguns textos há inclusive a negação que haveria negros trabalhando na obra do açude, o que revela a tentativa de apagar e criar um alicerce para a imagem do Ceará como um estado pioneiro do abolicionismo.

A obra e os seus elementos históricos juntos são uma metáfora da abolição, de uma paisagem etérea e fantástica de libertação, composta por elementos vivos-mortos, de uma história mal contada que glorificou a branquitude. Ao nos vermos na imagem da tv, encontramos a imobilidade e a visão distorcida de um contexto, de um animal morto-vivo.

Incorpora-se no animal e no sentimento de aprisionamento, sente-se clausura e sufocamento ao nos aproximarmos da experiência do animal imóvel. O ambiente se apresenta como uma ficção da tragédia colonial de controle e dominação da natureza e dos povos, seja através da taxidermia ou do ato de guardar a água e uma cápsula hermética. Traço esse paralelo entre vida e morte, o que renasce e o que permanece vivo através das imagens e do espaço e do tempo. Água e animal estão presos assim como a imagem de quem olha a obra dentro da TV.
“ trouxe notícias do teu oceano “ 2024 A Instalação é parte da exposição “ Anas, Simoas e Dragões - lutas negras pela liberdade” no @macdragao e tem curadoria de @aline.furtados @cicerapreta, expografia de @hectorisaias___ A exposição traz como proposta um enfrentamento da história, dos processos abolicionistas no Ceará, que apagam e diminuem o protagonismo de pessoas negras. 📜 Em diálogo com o acervo do Museu do Ceará o trabalho possui duas peças desse acervo. A primeira é um pássaro tesourão, taxidermizado. Coloco o pássaro em um abiente/gaiola, e instalo uma câmera que fica próximo ao bicho. Uma televisão na lateral da sala transmite a imagem da câmera, dando a impressão de que é a visão do animal de dentro da gaiola. A frente do pássaro preso, outra peça do acervo, uma cápsula de vidro, com a água da primeira sangria do açude Cedro, que fica em Quixadá, onde morei por 5 anos. O açude cedro é uma engenharia colonial que se arrastou pelos anos de 1900, mas que foi sonhada pelo imperador. 🐟 Há na construção do açude todo um debate sobre o uso de mão de obra escravizada, e em alguns textos há inclusive a negação que haveria negros trabalhando na obra do açude, o que revela a tentativa de apagar e criar um alicerce para a imagem do Ceará como um estado pioneiro do abolicionismo. A obra e os seus elementos históricos juntos são uma metáfora da abolição, de uma paisagem etérea e fantástica de libertação, composta por elementos vivos-mortos, de uma história mal contada que glorificou a branquitude. Ao nos vermos na imagem da tv, encontramos a imobilidade e a visão distorcida de um contexto, de um animal morto-vivo. Incorpora-se no animal e no sentimento de aprisionamento, sente-se clausura e sufocamento ao nos aproximarmos da experiência do animal imóvel. O ambiente se apresenta como uma ficção da tragédia colonial de controle e dominação da natureza e dos povos, seja através da taxidermia ou do ato de guardar a água e uma cápsula hermética. Traço esse paralelo entre vida e morte, o que renasce e o que permanece vivo através das imagens e do espaço e do tempo. Água e animal estão presos assim como a imagem de quem olha a obra dentro da TV.
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